Antiguidade
A difusão do Cristianismo e a Psiquiatria
Conforme o cristianismo difundia-se, paralelamente ampliava-se a superstição de que a doença psíquica representava manifestação da ira divina. Santo Agostinho de Hipona (354-430) dedicou-se a observação dos fenômenos da memória e da consciência. Entretanto, sua religiosidade não permitia que suas observações contrariassem a concepção sobrenatural das doenças psíquicas. Ele acreditava que o homem mantinha, desde o nascimento, uma "inclinação original para o pecado e para a concupiscência por um desejo de posse e de gozo". Esta observação influenciou a psicanálise e a própria fenomenologia. Na idade Média as doenças mentais voltam ao reino do sobrenatural e as terapêuticas consistem novamente em esconjuros, exorcismos para livrar o corpo dos espíritos malignos. O Malleus Maleficarum (O Martelo das Bruxas) é um livro escrito por dois dominicanos ( Heinrich Kraemer e James Sprenger em 1484 e é um manual de "pornografia e psicopatologia", em que se descreve a influência do demônio nas feiticeiras (através do desejo carnal), a forma de identificar a feitiçaria e o modo como as feiticeiras devem ser julgadas e punidas. Entretanto, contrariando esta superstição, surge na Europa no fim do primeiro milênio os primeiros "asilos" ou hospitais para doentes mentais. Os primeiros foram a colônia de Geel na Bélgica (850) e o Bethlem Royal Hospital em Londres. Entretanto o conceito degradou-se de forma progressiva e os doentes mentais, os pobres e os abandonados pelas famílias eram recolhidos em Hospícios, instiruições caridosas que eram um misto de casas de assistência e reclusão. Ali viviam também delinquentes e todos eram submetidos às mesmas normas de vigiância e repressão: grilhetas nos pés, açoites, privação alimentar O Renascimento não trouxe benefícios aos doentes psíquicos, mas pelo contrário, exacerbou as práticas de perseguição e desrespeito. Três seculos mais tarde (no Iluminismo) os doentes mentais viviam ainda em condições de promiscuidade, mal alimentados e submetidos a maus tratos. Alguns pensadores porém, trouxeram alguns avanços à psiquiatria durante a idade Média. São Tomás de Aquino, influenciado por Aristóteles, dedicou-se ao estudo da psicologia, e criou o Tomismo, uma espécie de neo-aristoltelismo. Já no período do Renascimento, Paracelso (1493-1541) advogava que a doença mental era uma perturbação da substância interna do corpo, o qual estava intimamente ligado à alma. Deveria-se então reforçar a capacidade do corpo para "curar a si próprio". Assim, Paracelso pode ser considerado como o primeiro psicoterapeuta. Johann Weyer (1515-1588), médico holandês, escreveu De Praestigiis Daemonum et Incantationibus ac Venificiis que postulava que as doenças mentais não eram sobrenaturais e que as feticieras precisavam ser tratadas como doentes psíquicos. Porém, estas foram manifestações racionais isoladas e apenas no final do século XVII notou-se maior interesse pela interpretação científica das "doenças do espírito".
Racionalismo
O século XVII traz o tema da loucura em obras poéticas tais como Hamlet e Rei Lear de William Shakespeare, o Elogio da Loucura de Erasmo e Don Quixote de Cervantes. No mundo científico, Copérnico, Leonardo da Vinci, Galileu Galilei, Descartes, Pascal e Isaac Newton revolucionavam as ciências naturais e o pensamento humano. Estas descobertas inluenciaram decisivamente a evolução científico natural da medicina e também na própria psiquiatria. Thomas Sydenham (1624-1689) foi o primeiro autor a descrever os efeitos dos opiáceos e realizou descrições sobre a coreia aguda, sobre a mania e a histeria. Thomas Willis (1621-1675) era um anatomista e neurologista e descreveu o Polígono de Willis, a paralisia geral (Sífilis) e a miastenia. Descreveu ainda alguns casos de jovens que na puberdade entravam em "estupidez", estado clínico que correspondia ou que veio ser designado por esquizofrenia. Do ponto de vista assistencial, entretanto, os doentes continuavam marginalizados. Na França, estavam nos dois hospitais gerais existentes: Salpetrière e Bicêtre, criados por Luís XIV em 1656.
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