O que é Ser Normal?
“Que é loucura: ser cavaleiro andante ou segui-lo como escudeiro?
De nós dois, quem o louco verdadeiro?
O que, acordado, sonha doidamente?
O que, mesmo vendado, vê o real e segue o sonho de um doido pelas bruxas embruxado?
Eis-me, talvez, o único maluco, e me sabendo tal, sem grão de siso, sou- que doideira – um louco de juízo “ (Carlos Drummond- Quixote e Sancho de Portinari, 1974).
Você já se fez essa pergunta: o que é ser uma PESSOA NORMAL?
Será que é tão fácil definir isso?
O problema do ser normal reside no conceito equivocado de normalidade, porque é entendido como viver no padrão, dentro das normas. Estabelece-se, arbitrariamente, uma norma ideal, o que é supostamente “sadio”, mais “evoluído”. Tal norma é de fato socialmente constituída e referendada. Depende, portanto, de critérios socioculturais e ideológicos arbitrários e, no mais das vezes, dogmáticos e doutrinários. O normal passa a ser aquilo que se observa com mais frequência, embora muitas vezes não o seja. A criação das línguas, assim como das regras e normas, são fatos sociais, através dos quais a sociedade tem a capacidade de se auto-regular. Lembro, também, que são fatos sociais as regras jurídicas, morais, dogmas religiosos, maneiras de agir, costumes, não desprezando a idéia que os fatos sociais são coercivos e exteriores ao individuo (Émile Durkheim). As normas determinam regras de comportamento que refletem valores de uma cultura determinando ou proibindo determinados tipos de comportamento, sendo as normas acompanhadas por sanções formais (justiça) ou informais (repreensão popular).
A pergunta a ser feita é:-
- Quem espera o que de nós?
- Quem são esses ditadores de comportamento a quem estamos outorgando tanto poder sobre nossas vidas?
Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha “presença” atravé de modelos de comportamento amplamente divulgados. O fato é que a sociedade precisa das normas para seu funcionamento satisfatório, muitas vezes em detrimento do indivíduo, o que não pode ser negado, ao menos na história da psiquiatria.
A mais antiga doença mental levou o nome de epilepsia (epi, o que está acima; lepsis, abater), já que os antigos pensavam que o diabo vinha de cima e abatia o indivíduo. Ao redor do ano 150a.C. ASCLEPÍADES criou o termo alienatio mentis para caracterizar os energúmenos, que eram postos à parte pela sociedade, alienados pelas pessoas, as quais praticavam as mais atrozes condutas, desde escorraçá-los para fora dos muros da cidade, condenando-os à vida errante, até confiá-los às famosas Naus dos Loucos. A doutrina que imputava ao demônio a origem da loucura foi assim por 1500 anos da era cristã. Muitos acabaram queimados na fogueira. Naquela época a sociedade tratava assim quem estava "fora dos padrões". O comportamento ético- moral apareceu na biosfera terrestre ao mesmo tempo em que surgiu a percepção consciente. Um ser consciente pode ser bom ou mal, ao passo que um ser não-consciente não pode. Consciência, em verdade, é entendimento das coisas, é um mundo a refletir o mundo, ou seja, a conduta é fruto de uma determinação de acordo com o entendimento. As regras e normas nasceram da inclinação natural do homem para o bem da natureza da humanidade, não tendo, porém, o homem se livrado de seus instintos profundamente arraigados.
O maior perigo pelo qual o ser humano está se contagiando é a doença da “Normose”( Prof. Hermógenes-Ioga), que é a doença de ser normal. Temos que ser naturais.
Ser normal é o comportamento que todos têm, é a mesmice generalizada.
Muitas coisas que destróem o Homem estão na moda, dentro das normas. São normais, mas não são naturais. Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo. Criaram o seu “normal”. A normose que nos limita e condena à obediência alienante é o maior desafio imposto ao Homem. As pessoas “esquisitas”, “anormais” incomodam. Face a um SER HUMANO com deficiência física ou mental, as pessoas vivem sentimentos contraditórios: desde compaixão a rejeição, sendo no mais das vezes imperativo o sentimento de rejeição. Tem sido assim ao longo da própria história que mostra muitos gênios que já foram discriminados antes de alcançarem o sucesso de seus empreendimentos, por exemplo, cientistas, artistas e escritores, que foram considerados malucos e anormais por serem diferentes e esquisitos. O questionamento da normalidade deve nos remeter a René Descartes: Dubito, ergo cogito, ergo sum. Se existo, posso duvidar e questionar os conhecimentos e dogmas da "sociedade normal". Portanto, o mais importante é: não olhe para outro ser humano e aponte o dedo porque ele tem “comportamentos anormais”, porque ele é “louco”.
Afinal, você é NORMAL ou NORMÓTICO?
“Não existe lei que obrigue você a ser do mesmo jeito que TODOS, sejam lá quem for TODOS. Melhor se preocupar em ser você mesmo”
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