Quando te encontras na base de um importante maciço montanhoso, estás longe de conhecer toda a sua diversidade, não tens nenhuma ideia das alturas que se ergueram por trás do seu cimo ou por trás daquele que te parece ser o cimo, não suspeitas nem o perigo dos abismos nem os confortáveis assentos ocultos entre os rochedos. É apenas se sobes e se persegues o teu caminho que se revelam pouco a pouco a teus olhos os segredos da montanha, alguns que esperavas, outros que te surpreendem, uns essenciais, outros insignificantes, tudo isso sempre e unicamente em função da direção que tomares; e nunca te revelarão todas.
O mesmo acontece quando te encontras diante de uma alma humana.
Aquilo que se te oferece ao primeiro olhar, por mais perto que estejas, está longe de ser a verdade e certamente nunca é toda a verdade. É apenas no decurso do caminho, quando os teus olhos se tornam mais penetrantes e nenhuma bruma perturba o teu olhar, que a natureza íntima dessa alma se revela a pouco a pouco e sempre por fragmentos. Aqui é a mesma coisa: à medida que te afastas da zona explorada, toda a diversidade que encontraste no caminho se esbate como um sonho, e quando te voltas uma última vez antes de te afastares, vês apenas de novo esse maciço que te surgia falsamente como muito simples, e esse cimo que não era o único que existia.
Apenas a direção é realidade; o objetivo é sempre ficção, mesmo quando alcançado - sobretudo neste caso.
Arthur Schnitzler - "Observação do Homem"
6 comentários:
Certamente objetivo, direção e determinação esse é o segredo de se alcançar o topo.
Abraços forte
Acredito que todo ser humano se mostra nú em derteminado momento, ou melhor dizendo, desde o primeiro momento e por diversos entre suas máscaras ... porém para ser visto, devemos tirar nossa venda de ilusão e lavar os olhos com água de simplicidade e despretensão. Beijo
Não basta ver a arvore, o negócio é enxergar a floresta, ai quem sabe, você terá entendido o que é um arvore, ou não.
Olá meu querido!
Muito bom o seu texto! Ótimo para refletirmos sobre as nossas buscas e verdades, sobre o caminho que percorremos e as pessoas que encontramos...Sabe que adoro uma passagem de um poema de Clarice Lispector que diz: "Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade..."
Acho que isso define bem a importância do objetivo, direção e velocidade... Há sempre um caminho a se percorrer e um lugar a se chegar, mas de nada adianta fazer isso as pressas, sem curtir a paisagem, sem reconhecer a importância desse trajeto.
Grande beijo,
Jackie
Uma hora a mascara cai..
Sempre li isto e sei de mascaras que se mantem.
bjs
Insana
Querido amigo, belo texto, profunda reflexão...geralmente o que vemos é a superfície, difícil adentrar mais, para que isso aconteça é preciso tempo, empenho, abertura.
Beijos...
Valéria
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