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quarta-feira, 20 de abril de 2011

A arte de Viver


Amanheceu um dia lindo, o sol brilhava e iluminava o jardim cheio de flores, cada qual mais imponente e perfumada que a outra. Começava, enfim, a primavera.
Havia rosas desabrochando, papoulas excitadas, jasmins que balançavam ao vento, margaridas em grupos, violetas excêntricas.

O jardim mais parecia uma festa à luz do dia.

Todos que ali passavam admiravam a riqueza daquele instante, a profundidade daquele momento e podiam sentir aquele aroma que trazia paz.
O colorido era maravilhoso, rosas vermelhas, margaridas amarelas, violetas roxas....tudo perfeito, tudo completo.

A grama completava aquele cenário irretocável e os raios de sol pousavam para emoldurar aquele momento.

Chegou então o jardineiro, para dar amor e carinho àquelas flores, fazendo o seu serviço em silêncio.
Podou, regou, plantou novas sementes, quando de repente percebeu que era observado por alguém que lhe disse:

- Que belo jardim, você é um artista, conseguir manter assim tudo perfeito, é uma arte.

Ele então respondeu:

- ...mas não está tudo perfeito! Olhe ali no centro do jardim, está vendo aquela orquídea? Ela está triste, ela está chorando, ela está sofrendo muito.

- Mas você consegue enxergar isso? Eu não estou conseguindo perceber, ela me parece tão linda!

- Você não consegue perceber, porque a beleza que ela traz por fora esconde a tristeza que ela carrega por dentro, mas eu posso perceber, porque os meus olhos, moram no meu coração e é só por isso que sou um artista.

Conservar a beleza de um jardim, não é ser artista, ser artista é perceber, entender, aceitar e sentir a tristeza de uma única flor que se esconde no meio de tantas.

Arte não se aprende na escola, não obstante possa ser aprimorada em determinados cursos. Ser artista não se restringe a pintar telas com traços perfeitos, cantar com voz afinada ( ou não, em alguns casos ), escrever livros com pensamentos filosóficos ou encenar algum papel nos palcos. Arte envolve principalmente sensibilidade, paixão, um desempenho extraordinário e único naquilo que você se dispõe a fazer, o que, convenhamos, está aquém de rótulos e aprendizados. Ser artista é saber lidar com substratos, muitas vezes impalpáveis. Ser artista é saber lidar com seus próprios sentimentos e emoções, saber cultivar seus jardins emocionais. Ser artista é ver a criação ou a existência daquilo que se propõe com o melhor de si mesmo.

E você? Quanto tem se desempenhado na arte de viver?

quarta-feira, 7 de julho de 2010

"Vai, poeta...rompe os ares"

Era num dia sombrio.....


Quando um pássaro erradio

Veio parar num jardim.

Aí fitando uma rosa,

Sua voz triste e saudosa,

Pôs-se a improvisar assim.
"ó Rosa, ó Rosa bonita!

Ó Sultana favorita

Deste serralho de azul:

Flor que vives num palácio,

Como as princesas de Lácio,

Como as filhas de 'Stambul.



Corno és feliz! Quanto eu dera

Pela eterna primavera

Que o teu castelo contém...

Sob o cristal abrigada,

Tu nem sentes a geada

Que passa raivosa além.



Junto às estátuas de pedra

Tua vida cresce, medra,

Ao fumo dos narguillés,

No largo vaso da China

Da porcelana mais fina

Que vem do Império Chinês.



O Inverno ladra na rua,

Enquanto adormeces nua

Na estufa até de manhã.

Por escrava - tens a aragem

O sol - é teu louro pajem.

Tu és dele - a castelã.



Enquanto que eu desgraçado,

Pelas chuvas ensopado,

Levo o tempo a viajar,

- Boêmio da média idade,

Vou do castelo à cidade,

Vou do mosteiro ao solar!



Meu capote roto e pobre

Mal os meus ombros encobre

Quanto à gorra... tu bem vês! ...

Ai! meu Deus! se Rosa fora

Como eu zombaria agora

Dos louros dos menestréis!. . .


Então por entre a folhagem

Ao passarinho selvagem

A rosa assim respondeu:

"Cala-te, bardo dos bosques!

Ai! não troques os quiosques

Pela cúpula do céu.



Tu não sabes que delírios

Sofrem as rosas e os lírios

Nesta dourada prisão.

Sem falar com as violetas.

Sem beijar as borboletas,

Sem as auras do sertão.



Molha-te a fria geada...

Que importa? A loura alvorada

Virá beijar-te amanhã.

Poeta, romperás logo,

A cada beijo de fogo,

Na cantilena louçã.



Mas eu?! Nas salas brilhantes

Entre as tranças deslumbrantes

A virgem me enlaçará

Depois cadáver de rosa

A valsa vertiginosa

Por sobre mim rolará.



Vai, Poeta... Rompe os ares

Cruza a serra, o vale, os mares

Deus ao chão não te amarrou!

Eu calo-me - tu descansas,

Eu rojo - tu te levantas,

Tu és livre - escrava eu sou! ...


Fábula: O pássaro e a flor - Os escravos
Castro Alves