segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Heróis da resistência




"Meu único desejo, meu tema musical, meu diamante é a educação".

Rubem Alves





Antigamente, quando se falava em determinadas profissões, acontecia automaticamente uma analogia com os heróis, pois tinham uma representatividade das atitudes corretas e dos comportamentos morais a serem observados e seguidos.
Um dos primeiros heróis, simbolicamente,  que temos contato é o professor. Mas é fundamental fazer uma viagem no tempo para que se fale um pouquinho a esse respeito.
Os professores simbolizavam, em outros tempos,  a figura de grande autoridade,  detentores do conhecimento. Através dos professores iniciávamos nossa entrada em um novo mundo. Era aquele primeiro momento de sair de nosso "mundinho" restrito ao contexto familiar e penetrar no conhecimento mais amplo. Os professores tinham autoridade. Se ficassem bravos, quando assim fosse necessário, os alunos se calavam e ficavam quietinhos, pois havia respeito. Naquela época não era incomum as crianças levarem "presentinhos" ( pequenos mimos ) ao seu professor. Todos queriam agradar e demonstrar sua gratidão e seu reconhecimento por aquela figura tão terna e importante. Mas, no fundo, não tínhamos noção de ter, diante de nossos olhos, um indivíduo que escolhera como profissão a arte de ensinar. E, obviamente, nem tampouco nos preocupávamos se ganharia bem ou mal sua remuneração. O que sabíamos é que sua arte era respeitável ( pelo menos por nós, alunos ).
Diante de nossos olhos, a cada dia, tínhamos um herói, um conselheiro, um amigo, uma autoridade, a quem respeitávamos. E creio ser bastante comum que, mesmo após décadas, muitos são capazes de se lembrar dos nomes de seus professores ( principalmente aqueles do "primário ", hoje chamado ensino fundamental ).
Mas, heróis não têm valor!
Nos tempos atuais, os professores continuam sendo heróis. Contudo é um heroísmo às avessas.
O professor precisa ter coragem de encarar uma sala de aula sem saber se vai ser agredido ou humilhado por alunos ou, quem sabe, pelos próprios pais de determinados alunos, que conseguem respaldo em suas atitudes delinquentes através da conivência familiar.
Hoje o professor é obrigado a calar-se diante de seus alunos, pois pode ser acusado diante do ECA            ( estatuto da criança e do adolescente ) de maus tratos ou assédio moral. Submete-se a provocações, enquanto algum aluno filma no celular as suas reações.
Hoje o professor não pode avaliar o verdadeiro conhecimento de seus alunos, pois está proibido de reprovar o ano letivo de qualquer um      ( e se der alguma nota baixa terá que preencher umas dez folhas se justificando por tê-lo feito, quase atestando que ele , professor, é burro e não soube avaliar ).
Hoje o professor precisa reunir cargas horárias estapafúrdias, para ver se consegue pagar suas despesas familiares.
Hoje o professor, mais do que nunca, tem que ser um idealista, sobrevivendo dia-a-dia aos desencantos de sua arte.
Hoje o professor adoeceu psiquica e fisicamente. Sente-se um lixo varrido para qualquer canto. Não tem mais certeza de seu futuro.
Hoje o professor sabe que sua arte não tem mais valor ou reconhecimento.
Hoje, dia 15 de Outubro comemora-se o DIA DO PROFESSOR.
Mas, afinal, o que o professor tem a comemorar?
Prefiro, ainda, manter a sua imagem de herói de tempos passados, mesmo que seja um herói apenas das boas lembranças, em extinção.
Aos heróis que resistem bravamente, deixo um grande abraço e o desejo de que tudo melhore.


sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A arte de Engatinhar

"O que diferencia os bem sucedidos dos medíocres é, em grande parte, a capacidade de olhar criticamente o mundo que o cerca, tomar decisões sabendo dos possíveis riscos e agir com perseverança e coragem para mudar o rumo quando necessário."





Desde a concepção e crescimento no útero materno, a vida trava batalhas e desafios. Tornar-se um ser, crescer e sobreviver, até mesmo ao nascimento, é o nosso primeiro desafio de persistência.
Engatinhar exige esforço, vontade, querer ir a algum lugar.
Caminhar exige equilíbrio, duramente conseguido para dar o primeiro passo, onde a coragem para encarar esse desafio é preponderante.
Correr, andar de bicicleta ou patins são apenas alguns exemplos de aprendizagens em nossa vida. No início não sabemos como fazer, mas a perseverança e vontade de aprender nos levam ao caminho desejado.
Há que se considerar que o principal fator para transformações, perseverança, coragem ou qualquer tipo de sentimento está no próprio indivíduo. Sua capacidade única de enxergar cada situação e agir positivamente sobre ela. Viktor Frankl ( psiquiatra judeu ) que foi preso pelos nazistas na segunda guerra mundial e sobreviveu ao holocausto, afirma: “a vida, potencialmente, tem um sentido em quaisquer circunstâncias, mesmo nas mais miseráveis. E isso, por sua vez, pressupõe a capacidade humana de transformar criativamente os aspectos negativos da vida em algo positivo ou construtivo”.
Há pessoas que reclamam do mundo por acreditar que são vítimas dos acontecimentos. Há outros que transformam os obstáculos em estímulos para se tornarem melhores. O que diferencia os bem sucedidos dos medíocres é, em grande parte, a capacidade de olhar criticamente o mundo que o cerca, tomar decisões sabendo dos possíveis riscos e agir com perseverança e coragem para mudar o rumo quando necessário.

Baseado e adaptado do livro de James Fenimore Cooper o filme “O Último dos Moicanos” é uma obra que retrata batalhas durante a guerra dos sete anos entre ingleses e franceses.

Mais do que isso, é uma bela obra, que desperta Sentimentos. Trata da solidariedade e perseverança vivida por um grupo de pessoas de origens bastante diferentes durante o processo de formação dos Estados Unidos da América no século XVIII. Duas jovens precisam atravessar o território americano dominado pelos franceses, durante a Guerra dos Sete Anos. Para tanto, contam com a companhia de um oficial inglês, dois índios ( pai e filho ) e um homem “branco” criado por essa tribo. Esses dois índios moicanos são os últimos representantes de valorosa tribo e sua dignidade irá influenciar os rumos da trama. Caminhando por paisagens inóspitas, eles vão descobrir o que há de mais selvagem e mais civilizado nas próprias relações humanas.








quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A importância da Saúde Mental

Não há Saúde sem Saúde Mental

Adoecer psiquicamente não é prerrogativa da
modernidade. É tão humano quanto nascer ou
morrer, ter diabetes, hipertensão arterial,
hemorragia.
Adoecer faz parte da condição humana.



Quando alguém adoece, é natural que receba afeto, simpatia e compreensão para superar o problema. O mesmo não acontece quando essa pessoa adoece por um transtorno mental. A doença, nesse caso, pode ser interpretada como sinal de fraqueza, de autoflagelo, de covardia. Guardada a devida distância, é uma reação semelhante a que os romanos manifestavam em relação aos portadores de lepra - uma condição considerada degradante, dolorosa e contagiante.
Melhor evitá-los, colocando-os em lugares bem longe das cidades, confinados. Foi essa a lógica que levou à criação dos asilos para os desvalidos na França, na Inglaterra e no Brasil, a partir do final do século XVIII.
Adoecer psiquicamente não é prerrogativa da modernidade. É tão humano quanto nascer ou morrer. Não há civilização conhecida, mesmo as mais primitivas e idealizadas, sem registro da existência de transtornos mentais como os descritos nos manuais nosológicos atuais.
O transtorno mental não escolhe nem cor de pele nem classe social. Dom João VI teve problemas com a mãe e nosso imperador Dom Pedro II, culto e admirado, deve ter sofrido mais com a doença do filho do que com a abdicação do trono aos republicanos. Quantos reis e rainhas fazem parte dessa lista? Quantos artistas consagrados conseguiram realizar grandes obras apesar de seus tormentos? Que sofrimentos não experimentaram Van Gogh, Virginia Woolf e Vladimir Maiakovski?
Estou tentando me lembrar de uma só família que tenha passado incólume por essa marca.
Como convencer as pessoas de que adoecer mentalmente é tão normal quanto ter hipertensão arterial, ou diabetes, ou hemorragia?
Em outubro do ano passado, a tradicional publicação britânica The Lancet, por obra de seu jovem e instigante editor, Richard Horton, decidiu abraçar a causa dos transtornos me n t a i s.
Foi criado um comitê executivo internacional encarregado de assessorar governos, políticos e organizações não-governamentais, bem como usuários dos serviços e seus familiares, no planejamento da ampliação do financiamento e dos recursos assistenciais comunitários efetivos, para reduzir o hiato existente entre a demanda e a disponibilidade de serviços para o cuidado da saúde mental no planeta, contemplando a proteção dos direitos humanos.
A iniciativa do Lancet, evocada pela presença marcante de Vikram Patel, Martin Prince e Shekhar Saxena, foi reforçada por um movimento intitulado Global Mental Health Movement, que está lançando chamado para uma ação global pela ampliação dos serviços de saúde mental. No dia 10 de outubro, dia mundial da Saúde Mental, a OMS lançou um programa semelhante em Genebra. O novo programa, de iniciativa da OMS, e outras ações para aprimorar a atenção aos portadores de transtornos mentais estão em andamento em vários países do mundo. A meta é que todo desvalido e marginalizado tenha seus direitos contemplados, que todo sujeito com problema, independente de cor, classe e diagnóstico, tenha o direito à liberdade, respeito e dignidade, que faça dele um semelhante apenas diferente. Todos os que quiserem participar do movimento do Global Mental Health devem acessar o site para se cadastrar, para ter acesso a vários artigos e documentos relacionados com a expansão de serviços de saúde mental em países de baixa e média renda per capita.
Adoecer de um transtorno mental é tão natural quanto os dizeres do verso do poeta Caetano Veloso, "de perto ninguém é normal".A estimativa é de que 25% da nossa população adulta irão exigir algum tipo de cuidado de saúde mental no espaço de um ano. A magnitude dessa realidade provoca um enorme descompasso entre demanda e disponibilidadede serviços, mesmo nos países desenvolvidos. O que dizer desse desequilíbrio nos países mais pobres?
No Brasil, aquela mãe que corre de um lado para outro com seu filho nos braços, em busca de tratamento, sabe o que é esse descompasso. Nos últimos anos, vimos uma redução substancial dos leitos psiquiátricos no país e a introdução progressiva dos novos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Vários pacientes saíram da situação de confinamento e voltaram para casa. Alguns poucos o fizeram contando com o recurso previdenciário do governo, muitas vezes o único fornecido para aquela família. Estes recuperaram a dignidade e a cidadania. Vários, porém, perderam o contato com os parentes e permaneceram na situação asilar, muitas vezes em condições precárias e desumanas. Os profissionais brigam entre si. Alguns defendem os hospitais, outros o atendimento comunitário. O paciente fica no meio, à mercê da disputa.

O que mais importa, na verdade, é que as alternativas de tratamento, em hospitais ou em CAPS, sejam humanizadas e condignas e efetivas, ou seja, compostas, de fato, de uma terapêutica especializada e de padrão internacional. São vários os tratamentos disponíveis: medicamentosos, psicoterápicos e psicossociais, muitos com eficácia comprovada.
Há meios de se distinguir os que funcionam dos que nada adiantam. Há muitos casos em que não adianta atender somente a situação de crise. Pode ser preciso estender o tratamento por toda a vida. É enorme o impacto de um tratamento bem escolhido na vida do sujeito e de seus familiares, tanto do ponto vista da qualidade de vida quanto do ponto de vista econômico.
Ah! Mas o tratamento escraviza, deixa a vítima dependente da pílula, dirão os críticos do uso continuado, por exemplo, de medicação psicotrópica. Sou defensor da interpretação antagônica: o tratamento liberta, deixa o sujeito em condição de respirar, de criar e até mesmo de sorrir e sonhar.
O sistema de saúde mental atual tem muito para melhorar e aprimorar. Carece de articulação entre os diferentes níveis de atenção (Programa Saúde da Família - PSF, ambulatórios, CAPS, leitos para internação de casos agudos, leitos para internações mais prolongadas), além de distribuição mais homogênea de profissionais bem treinados entre as diversas regiões geográficas. A análise de todos os serviços e recursos humanos disponíveis, por regiões do país, realizada por um grupo de trabalho, recentemente, indicou várias recomendações a serem implementadas .
Uma questão importante é a expansão do número de leitos psiquiátricos em unidades do hospital geral. A internação psiquiátrica requer vários exames médicos e, quando realizada no âmbito do hospital geral, tende a ser de curta duração. Receber pessoas com transtornos mentais em enfermarias de hospitais clínicos auxiliaria a reduzir o estigma enfrentado pelos pacientes e por seus familiares. O Hospital São Paulo, da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo, conta com enfermaria de psiquiatria há mais de trinta anos. Alguns hospitais de ponta no país, entre eles o Albert Einstein,
de São Paulo, estende atualmente seus cuidados aos portadores de transtornos mentais. É fundamental a continuidade do programa de desinstitucionalização progressiva dos pacientes remanescentes em situação asilar, principalmente nos hospitais reconhecidamente deficientes e com histórico de abuso dos direitos humanos.
Os transtornos mentais são responsáveis por 18% da sobrecarga global das doenças no país, mas contam apenas com 2,5% do orçamento da saúde. É preciso superar esse descompasso, ampliarmos cursos de graduação e pós-graduação especializados em enfermagem psiquiátrica, providenciar treinamento das equipes do Programa de Saúde da Família nos cuidados básicos em saúde mental e desenvolver cursos de extensão para profissionais que possam atuar na gestão dos serviços de saúde mental.
Para um país que pretende reduzir a desigualdade social, é essencial cuidar de seus desprotegidos com dignidade. Que se amplie o financiamento à saúde em direção à oferta mais eqüitativa dos serviços destinados aos portadores de transtornos mentais, pois não há saúde sem saúde mental
Jair de Jesus Mari
Membro do Comitê Executivo do
Professor titular do Departamento de Psiquiatria da Universidade
Federal de São Paulo e Professor honorário do
Population Research Department - Institute of Psychiatry - Kings
College


Global Mental Health Movement.
Health Services and, Universidade de Londres


CHEGA DE PRECONCEITOS!!
ACEITE AS DIFERENÇAS!!

domingo, 7 de outubro de 2012

Fazendo a diferença



Conta a história que, em meados do ano 1905, Elezéard Bouffierd, um homem com pouco mais de cinquenta anos, passou a morar sozinho em uma região montanhosa da França, no vale da Provença.
Nessa época, as terras estavam devastadas e nada crescia além das lavandas silvestres. Uma desolação total.
Havia secura por toda parte e, para que ele pudesse sobreviver ali, extraía água de uma fenda natural e profunda.
Diariamente esse camponês dedicava-se ao trabalho de examinar, com muita atenção e cuidado, várias sementes de carvalho. Escolhia as melhores e as separava em grupos de dez.
Depois saía a caminhar pelas montanhas, levando consigo um comprido bastão de ferro e os grãos anteriormente selecionados.
No alto das colinas, fazia buracos com o bastão, depositava as sementes e as cobria com terra.
Plantava carvalhos numa terra que não era sua.
A cada dia, com extremo cuidado e em completa solidão, aquele homem plantava cem grãos.
Calculava que já havia semeado cem mil árvores desde que iniciara essa tarefa. Supunha que vinte mil brotariam. Dessas, perderia metade devido aos imprevistos da natureza.
Em seu cálculo, restariam então dez mil carvalhos que iriam crescer em um lugar onde antes não havia nada.
Rogava sempre a Deus que lhe permitisse viver ainda por muitos anos, para que pudesse continuar a plantar.
Mantinha também um canteiro cheio de mudas de faias, árvore tipicamente europeia.
Passados cinco anos do plantio das primeiras sementes e mudas, surgiu nas colinas uma espécie de bruma cinzenta que as cobria como um tapete.
Na sequência do tempo, passados mais dez anos, num espetáculo impressionante, os carvalhos haviam crescido e se transformado numa floresta.
As faias tinham vencido as intempéries e as bétulas formavam um admirável bosque.
Tudo saído das mãos e da alma de um único homem que, sem utilizar nenhum meio técnico, perseverou até a velhice, na sua inabalável tarefa de plantar árvores, confiando apenas em seus simples recursos.
Como símbolo máximo do renascimento, a água corria em riachos que antes estavam secos, num impressionante efeito natural de reação.
Ao se observar aquela beleza indescritível era possível a conclusão de que podemos ser tão eficazes quanto Deus em algumas instâncias.
Toda a semeadura parecia ter acontecido de uma forma natural, ninguém suspeitaria que fosse obra de uma única pessoa.
O trabalho calmo e regular, a frugalidade e, sobretudo, a serenidade da alma, transformaram aquele homem em um colaborador de Deus.
*   *   *
Com um exemplo de simplicidade e amor à natureza, esse homem demonstrou a nossa capacidade de sermos co-criadores da obra Divina.

As sementes por ele plantadas representam a esperança de que somos capazes de modificar, para melhor, o local onde vivemos, legando para as futuras gerações um mundo mais belo e promissor.


Redação do Momento Espírita, com base no curta "O homem
que plantava árvores", ganhador do Oscar de 1988, de melhor curta de
animação.
Em 20.09.2012.

Aos amigos que tiveram problemas para acessar SENTIMENTOS e EMOÇÕES, peço desculpas. Estava ocorrendo um redirecionamento incorreto (provavelmente por um malware). Eu não conseguia acessar também. Mas agora está resolvido. Abraçoss!!

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Os olhos que vi


"Esse menino é adotado, mas nunca me deu felicidade"
Ainda ecoa a frase em meus ouvidos, quase como um mantra que se repete involuntariamente em minha mente.
Como tem sido habitualmente, apresenta-se uma mãe com um filho. O diagnóstico ou veredicto já, antecipadamente, consumado não poderia ser outro: "esse menino é hiperativo"
Não quero me prender a esse diagnóstico, que já se tornou mais um alvo de modismos psicopatológicos. Mas chamou atenção a frase que ouvi.
Primeiramente, se dividirmos a frase "esse menino é adotado, mas nunca me deu felicidade" seria possível algumas interpretações a respeito.
Você adota uma criança para dar-lhe felicidade ou o contrário?
Quando você adota uma criança é obrigado ou o faz voluntariamente?
Se você adota uma criança, acha que tem realmente direito de fazer esse tipo de cobrança?
Quais as formas de se conseguir felicidade, principalmente nesse relacionamento?
Assim, as perguntas vão surgindo e, como um gêiser, fazem entrar minha mente em ebulição.
Mas, há um adágio popular que diz: "o que os olhos não vêem, o coração não sente". Infelizmente meus olhos viram e meu coração sentiu.
Vi o sentimento nos olhos dessa criança ao ouvir a frase da mãe. Não preciso descrever a tristeza.
E, surpreendentemente...ou não, no mesmo instante que seus olhos clamavam por compaixão, exclama: "ahh, poxa!" e abraça a mãe com carinho.
O que você espera ao presenciar todo o diálogo, a cena, os olhares e os sentimentos que se escancaram nestes olhares?
E, após muitas perguntas direcionadas aos dois e muita observação, o gêiser mental inicia sua nova erupção de questionamentos.
Quem dos dois estaria precisando de mais ajuda nesse momento?
Todos os comportamentos de inquietude dessa criança não seriam uma maneira de conseguir atenção dos pais para si? Não seria uma maneira de conseguir o afeto que sempre desejou?
Notadamente era um garoto muito esperto, extrovertido e comunicativo. Mas um olhar, mesmo que de relance, diz tudo. Sim, tinha, por vezes, aquele olhar de tristeza, de vazio.
A mãe dizia: " você acaba com seu pai que está doente. Ele não te aguenta." E o filho respondia com um sorriso amarelado: "mas eu amo meu pai, assim como te amo. Mas às vezes não sei demonstrar o que sinto"
Enfim, creio que seria uma verdadeira aula sobre os relacionamentos humanos e todos os seus sentimentos e emoções possíveis....ou impossíveis.
Amar, ou dizer que ama pode ser muito mais fácil do que demonstrar o verdadeiro afeto. Contudo, a dificuldade em demonstrar um afeto não significa sua ausência ou o minimiza.
Avaliar nossos desejos e anseios diante de um filho pode ser muito mais complicado do que parece, principalmente quando os projetamos como verdades incontestáveis ou inegociáveis.
E, como se saltasse de dentro daqueles olhos, pequeninos olhos que vi, Cecília Meireles falando:
"E minha alma, sem luz nem tenda,
passa errante, na noite má,
à procura de quem me entenda
e de quem me consolará..."

sábado, 7 de abril de 2012

Perseverare

Adebayo sentia-se infeliz. Reclamava constantemente da infelicidade que tomava conta de seus dias.
" Não sou triste. Sou uma pessoa infeliz. Nada me satisfaz ou faz graça".
Já passou por tantos fracassos e tantas desilusões que não acredita em seu potencial. Nunca conseguiu nada que tenha almejado, pessoal, profissional ou socialmente.
Perdeu a noção de quantas vezes sonhou e viu tudo desmoronar. Sempre construiu castelos que ruiram, um após outro.
Tornou-se um descrente de si mesmo. Vivia perdido em devaneios de auto-comiseração e intitulava-se flagelado na alma.
Seu discurso fazia lembrar o poema de Álvaro de Campos, "Passagem das Horas":


"Trago dentro do meu coração, 


Todos os lugares onde estive, 
Todos os portos a que cheguei, 
Todas as paisagens que vi...

E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.....


....Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti, 
Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir 
E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz.....


.....Não sei se a vida é pouco ou demais para mim. 

Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei 

Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência.....


....É preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas... 

Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, não choro, 
Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca... 
Que há de ser de mim? Que há de ser de mim? ......


......Não sei sentir, não sei ser humano, conviver 

De dentro da alma triste com os homens meus irmãos na terra. 

Não sei ser útil mesmo sentindo, ser prático, ser quotidiano, nítido, 
Ter um lugar na vida, ter um destino entre os homens, 
Ter uma obra, uma força, uma vontade, uma horta.... 


......Sentir tudo de todas as maneiras, 

Viver tudo de todos os lados, 

Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo, 
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos 
Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo....."



Assim caminhava Adebayo, um transeunte perdido nas rotas da vida. Sufocado pelo próprio significado de seu nome, como se fora um castigo imputado a viver eternamente na busca desse sentimento inatingível.
Seria tudo fruto de sua imaginação? Seria tudo fruto de uma mente estagnada nos momentos de insatisfação?
Frustrações e contrariedades fazem parte da vida de qualquer ser humano. Mas não são barreiras intransponíveis e imutáveis. A diferença entre a insatisfação perpetuada e a transitória sempre será a facilidade individual em lidar com as amarguras.
Saiba lidar com as pedras que apareçam em seu caminho e seus castelos serão fortificados.
Saiba lidar com suas amarguras e cada dissabor será mais adocicado.
Saiba lidar com as frustrações e aprenderá que podem acontecer, mas não precisam ser perpetuadas.
A perseverança leva ao recomeço. Tenha forças e acredite que todo recomeço possibilita novas oportunidades e novas conquistas.
E lembre-se:

"A frustração é uma traça que corrói as entranhas da Alma" - Stuka Angyali

Como quer suas entranhas??


segunda-feira, 2 de abril de 2012

Alimento do saber





"Os poemas são pássaros que chegam

não se sabe de onde e pousam

no livro que lês.


Quando fechas o livro, eles alçam vôo

como de um alçapão.

Eles não têm pouso

nem porto

alimentam-se um instante em cada par de mãos

e partem.

E olhas, então, essas tuas mãos vazias,

no maravilhado espanto de saberes

que o alimento deles já estava em ti... "

Mário Quintana



domingo, 1 de abril de 2012

Dentro de você

Bem, já que mais uma semana se inicia, vale a pena refletir sobre uma questão básica: O que posso fazer para que o mundo seja melhor?

Adoraria dizer que essa foto é uma montagem do dia da mentira
Fome e desespero

Será que o mundo depende de atitudes extravagantes ou grandiosas para que seja melhor?
Creio que não!

O mundo melhor começa dentro de cada ser humano.


Dentro de cada um de nós é possível florescer as atitudes que podem tornar o mundo maravilhoso.
Nosso mundo interior pode ser o grande responsável por aquilo que desejamos viver.

Então que tal iniciar a semana tornando seu mundo interior um lugar fantástico?
Pense de que forma isso é possível, afinal não é difícil.
Temos duas mãos, dois pés, dois olhos e dois ouvidos. Que tal utilizá-los da melhor forma possível?
Proponha-se a ouvir mais e pense muitas vezes antes de falar qualquer coisa que possa machucar.
Dê ouvidos a quem necessita expôr suas feridas emocionais ou mazelas existenciais. Seja paciente.
Olhe ao seu redor. Muito próximo, com certeza,  há pessoas que nem precisam dizer qualquer palavra para demonstrar seu sofrimento. Você consegue enxergar e fingir que não vê?
Estenda as mãos e dê o apoio necessário.
Se você puder fazer isso, estará dando um grande passo para um bem maior. Mexa-se! 
Temos apenas um cérebro e um coração. Utilize sua inteligência de forma sadia. Deixe seu coração disposto ao amor.

Fica o desafio: Você é capaz de doar de si próprio?

Ou acha que isso é apenas utópico e que se dane tudo?
Vamos fazê-lo então!!?
Abraços e luz

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Almas que choram

Você acredita que está imune?
Já sangrou em sua alma?
Se já passou por um sofrimento emocional bem sabe a dor.
Se nunca passou, lembre-se:
JAMAIS JULGUE!!



Pensamentos diários,
semblantes interrogativos.
Diálogos perdidos,
monólogos da alma.

Medos, aflições,
Dúvidas, angústias,
Dores no peito, solidões.
Almas que choram.

Buscam soluções
flagelos do ser.
Humanos no caos
de um labirinto interior.

Medo da loucura,
da perda da razão.
Anseios frustrados
diante de um "não"

Ahhh!! humanos
Tantos pensamentos,
tantos sentimentos...
Quanta busca!!

E na procura de algo
incerto, sem bem saber
o que buscar ou querer
sofrem humanos.

Imerso em devaneios,
nos monólogos da alma,
vive, o ser, a penúria
emocional.



 














sábado, 4 de fevereiro de 2012

Quem é Viviam ?


Quem é Viviam?
Dos campos arados,
Que esgota forças
E pinga suores,
Lavrando a terra.
Das obras que arranham
Os céus...
...e as mãos calejadas.
Dos lares administrados
Pelas mãos suaves,
Mas tão poderosas.
Dos consultórios e escritórios,
Das lojas, fábricas e indústrias.
Somos eu, você e eles?
São todos?
Que trabalham incansavelmente.
Que gastam seus dias
Em expedientes infindáveis.
São aqueles que sobrevivem à vida.
Almas que vivem as mazelas dos ponteiros...
...de relógios,
Que ditam cada segundo de suspiro.
Vidas....
E você...
Vive Viviam?

domingo, 29 de janeiro de 2012

Que sentimento é esse?


Que sentimento é esse?
Tão paradoxal em si mesmo.
Na mistura de sabores,
Entre o doce e o amargo.

Que sentimento é esse?
Tão somatizante,
misturando dores,
Entre corpo e alma

Ahh sentimento!!
Que provoca emoções
Que se chocam
Entre o sorrir e chorar.

Que sentimento é esse?
Tão confuso na certeza
De que incomoda senti-lo
Porque dói mesmo sem querer.

Sentimento ....
Que não se traduz,
Nem se define.
 Tão intenso em adjetivos.

Que sentimento é esse?
Que esvazia seu peito
Tão cheio....
.....de sentimentos?

Sentimento forte,
Que carrega o Amor em seus braços
Enquanto luta contra seu algoz,
A distância.

Sentimento
Que se apoia
Nos calcanhares da lembrança
E nos braços da memória.

Saudade!





Como disse Mário Quintana, “O tempo não para! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo.”

Muito bom saber que o tempo passa tão rápido, enquanto as lembranças não se esquecem.






segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Mãos no manche


Insegurança e ansiedade sempre andaram de mãos dadas. É um grande e destrutivo circulo vicioso.
Além disso, a baixa autoestima e baixa autoconfiança acabam agravando a situação.
Algumas pessoas permanecem estáticas diante das circunstâncias, mesmo que simples. Qualquer situação corriqueira pode tornar-se um desafio complexo e perturbador. Nesse ponto, a autoestima e confiança em si mesmo deveriam prevalecer como forças internas. Porém, a falha na resposta vai gerar muito mais insegurança e, consequentemente, ansiedade.







Lembrei-me da história da moça que vivia um relacionamento totalmente perturbador. O namorado nunca foi um exemplo de companheirismo e lealdade, tão fundamentais em qualquer relacionamento a dois. Sempre foi alheio e egocêntrico às dificuldades dela. Como não bastasse, nos momentos juntos, apenas a criticava, piorando sua autoestima.
Ela, já não sabia se o amava, embora admitindo que nunca fora uma pessoa que conseguisse viver sozinha, sem alguém ao seu lado.
Mas ela sempre esteve sozinha nessa relação!! Muito mais envolvida afetivamente do que ele.
Era como ter um fantasma dentro de casa. Assombroso com ele, mas pior sem ele – afirmativas dela.
Sentia como se ele apagasse seu brilho constantemente.
Mas não conseguia desfazer-se da relação. E por quê? Onde estaria sua autoestima?
A insegurança e o medo da solidão acabaram dominando-a.
Vive na tristeza e na amargura. Sonha com o fim da relação, mas não quer perdê-lo. A ambivalência tomou conta de seus pensamentos.
Um dia vai sair dessa. Vai se tornar uma pessoa mais segura, confiante e comandante dos próprios sentimentos.
Comandante...?
A vida é como o avião que passa. Sobrevoa contínuo e rapidamente.
Mas quem escolhe a sua rota é você.
É como ter o manche da vida nas mãos.
Você comanda seu manche ou deixa solto para ver no que vai dar.
A escolha sempre será sua. Desde que tenha autoestima e segurança em si mesmo.

sábado, 14 de janeiro de 2012

O conforto de seus braços



É muito bom ter saúde, física e mental!
É muito fácil conviver com quem tem saúde física e mental!!
Mas assumir uma postura diante da doença nem sempre é tão simples.
Ser ou estar doente é um sentimento terrível. Além das dores físicas ou dores da alma, há, normalmente, um sentimento de incapacidade individual. Há o sentimento de culpa por se sentir um “peso” para o cuidador.
Quando se trata de um adoecimento mental o quadro é muito mais complexo, uma vez que podem ocorrer as mais variadas alterações de humor e comportamentais.
De fato, não é fácil compreender e cuidar de alguém adoecido psiquicamente.

Há uma história de um rapaz que volta da guerra e, ao chegar em seu país, liga para seus pais:
-Pai, mãe, estou voltando para casa. Mas antes quero pedir um grande favor a vocês. Tenho um amigo que gostaria de levar junto comigo para casa.
-Sim filho, claro. Adoraríamos conhecê-lo.
-Mas antes há algo que vocês precisam saber, continuou o filho. Ele foi terrivelmente ferido em combate. Pisou em uma mina e perdeu um braço e uma perna. Pior é que ele não tem lugar para morar.
-Nossa! Sinto muito filho. Quem sabe encontraremos um lugar para ele morar.
-Não mamãe. Eu quero que ele possa morar na nossa casa.
-Filho, você não sabe o que está pedindo. Não tem noção da gravidade do problema. Alguém com tanta dificuldade seria um fardo para nós. Temos nossas próprias vidas e não queremos uma coisa como essa interfira em nosso modo de viver. Acho que você poderia voltar para casa e esquecer esse rapaz. Ele encontrará uma maneira de viver por si mesmo!
Nesse momento o filho bateu o telefone e nunca mais ouviram uma palavra dele.
Alguns dias depois, os pais receberam um telefonema da polícia, informando que o filho deles havia morrido ao cair de um prédio. A polícia, porém, acreditava em suicídio.
Os pais, angustiados voaram para a cidade onde o filho se encontrava e foram levados para o necrotério para identificar o corpo. Para seu espanto e terror, descobriram algo: “O FILHO DELES TINHA APENAS UM BRAÇO E UMA PERNA!”

Muitas pessoas adoecem e sentem medo de dizer que precisam de auxílio e apoio.
Sentir-se um fardo pode ser pesado demais para a alma.
É fácil amar aqueles que são perfeitos, bonitos, saudáveis, divertidos, mas há a tendência a afastar-se daqueles que incomodam ou não nos fazem sentir confortáveis.
Ninguém, obviamente, quer adoecer. Mas, somos máquinas falíveis.
Não encolha as mãos a qualquer pessoa, principalmente doente.
Pense bem!
O desconforto de uma dor, física ou mental, pode precisar do conforto de seus braços.